Através da história, inovações introduzidas pelas tecnologias de informação e de comunicação têm influenciado muito as sociedades. Diversas tecnologias consolidadas estão tão integradas à nossa sociedade que indivíduos, empresas e governos não saberiam mais como viver sem elas. Novas tecnologias de informação e de comunicação digital continuam a ser introduzidas com um grande impacto sobre o modo como trabalhamos, aprendemos e nos comportamos.
Entretanto, em vez de simplificar e de melhorar nossas vidas, elas estão complicando e tornando-as caóticas. A sociedade luta para adaptar-se a este processo. As tecnologias de informação e comunicação alteram o modo como a informação é organizada e acessada, assim como a quantidade de dados disponível – que tem crescido exponencialmente.
O cientista Solla Price percebeu o crescimento da informação publicada por um fator de 10 a cada meio século. Se havia 10 revistas de comunicação científica a partir de 1750, o seu número cresceu para 100 no início do século XIX, para cerca de mil em meados do mesmo século e aproximadamente 10 mil por volta de 1900. No acesso ao Centro Internacional do ISSN (International Serial Standard Number), pode-se identificar hoje um total superior a 1 milhão e 100 mil periódicos registrados. Conseqüentemente, a tarefa de se manter atualizado com os avanços no próprio campo de especialização está se tornando cada vez mais difícil para pesquisadores e profissionais do mundo inteiro.
Pela primeira vez na história, a informação é produzida em um ritmo que excede as habilidades humanas para encontrá-la, revisá-la e compreendê-la. As pessoas possuem níveis de tolerância fisiológica à informação, determinadas por sua quantidade e por sua estruturação. A quantidade de informação e a compreensão estão positivamente correlacionadas somente até um determinado grau: acima deste ponto, a compreensão declina e há um efeito negativo sobre o que foi aprendido anteriormente.
Ocorre que, quando se têm três estudos sobre um determinado tema, é relativamente fácil comparar alternativas; quando se tem cerca de 10 estudos, o valor relativo de cada um diminui; mas, se existirem mil ou 100 mil estudos, o seu valor tende a zero. Devido ao fenômeno de data smog, os valores começam a se tornar negativos, com frustração para a atividade científica.
Uma edição dominical de O Globo ou O Estado de São Paulo contém normalmente mais informações do que o comum dos mortais poderia receber durante toda a sua vida na Idade Média. Os meios de comunicação de massa e a Internet despejam volumes cada vez maiores de dados e de notícias a velocidades estonteantes: somos massacrados por informações em quantidades impossíveis de serem processadas. Encontrar o que é pertinente e necessário, neste contexto, passou a ser uma tarefa árdua para os cidadãos comuns.
Se, no passado, a informação costumava passar pelas mãos de bibliotecários, jornalistas, educadores ou fontes com reconhecida credibilidade, atualmente, grande parte dela é imprecisa, ultrapassada e de qualidade duvidosa. Na mídia de massa, por exemplo, mistura-se a quantidade à baixa qualidade, sem proveito concreto para o cidadão em termos de conhecimento construído, e quanto mais tentamos acompanhar esta corrida, mais somos vulneráveis aos erros da percepção.
A crise contemporânea é justamente a de como transformar a informação disponível em conhecimento. Mais informação deveria representar mais oportunidades para aumentar a nossa compreensão do mundo, mas não é o que ocorre na prática. A explosão de informações funciona como uma espécie de cortina de fumaça. Surge uma síndrome emocional e mental que leva as pessoas a conclusões errôneas e a decisões ingênuas, causando ineficiência e prejuízos financeiros para as organizações – problema típico dos trabalhadores do conhecimento. Em termos de saúde indivídual, os efeitos do excesso de informação passam por estresse, tensão, distúrbios de sono, problemas digestivos, dificuldade de memorização, irritabilidade e sentimento de abandono.
[Trecho de artigo publicado na revista Capire.Info – continua]